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22 de abril de 2004

Estado investe pouco mas exige medalhas

A propósito do último colóquio do CRC - Mercantilização do Desporto, Competição Saudável:

Diário de Notícias, 22.Abr.04

CIPRIANO LUCAS

«Em Portugal não se conhece a percentagem do PIB para as actividades desportivas, factor determinante para compreender o atraso estrutural do desporto no nosso país», referiu Vicente de Moura, no decorrer do debate sobre o tema «A mercantilização do desporto», promovido pelo Centro de Reflexão Cristã, no Centro Nacional de Cultura em Lisboa, e com a presença do presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Couceiro, treinador do Alverca, Manuel Brito, professor universitário, e Guilherme Oliveira Martins, deputado.

O presidente COP apresentou uma síntese sobre a evolução do movimento olímpico e a sua «comercialização», referindo que Portugal é dos países da Europa que menos investem no desporto, mas é também onde «os políticos exigem resultados de alto nível, que custam milhares de contos». A média do investimento nos países da União Europeia é de 2%. «Nas minhas contas, o Estado português nem sequer chega a disponibilizar 1%... talvez 0,8%», acrescenta. Por isso, «as federações vivem com dificuldades e são obrigadas a recorrer a outras fontes de financiamento» com a envolvente comercial, adianta o presidente do COP, que de seguida defende, sem complexos, «a aposta na base da prática desportiva em detrimento da alta competição». Em traços gerais, Vicente Moura defende que deveríamos equacionar o investimento do desporto profissional numa «lógica de autonomia financeira, caso contrário... não é profissional». No entender do dirigente, vivemos em Portugal uma «situação artificial, pois o mecenato não funciona... só as empresas estatais é que aderem, o que inviabiliza a Fundação do Desporto».

Para José Couceiro, ex-presidente do sindicato dos jogadores e director da SAD do Sporting, a evolução do profissionalismo deve-se, antes de mais, «ao interesse dos governos em ganharem competições, medalhas. Marx acertou em cheio quando defendeu que a base económica iria vencer... e isso verificou-se também no desporto». Para o técnico, «o desporto viveu como uma escravatura no século XX, liderado por instituições com modelos fascistas como a UEFA e a FIFA, onde só interessa o rendimento desportivo e económico. Ainda assim, refere, hoje, o futebol é «a única actividade onde as mais-valias vão para os trabalhadores».

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