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O Rabino Jonathan Sacks diz-nos que para compreender os conflitos hoje, temos que ter presente a revolução tecnológica.
Sabemos que a primeira grande transformação ocorreu com a mudança da cultura oral para a cultura escrita.
Isto acontece em quatro fases: Em primeiro lugar com o começo da escritura cuneiforme na Mesopotâmia que coincide com o início da civilização e os hieróglifos no Egipto pouco tempo depois.
Em segundo lugar, com o alfabeto em hebraico, na época dos Patriarcas.
Em segundo lugar, com o alfabeto em hebraico, na época dos Patriarcas.
Com o alfabeto, escreve-se a bíblia, o ‘Antigo Testamento’, o que permitiu difundir a mensagem do monoteísmo.
Em terceiro lugar veio a invenção da máquina de impressão, o que permitiu a Reforma, a divulgação do alfabetismo, o grande desenvolvimento da ciência, do individualismo, a divisão do trabalho, o mercado livre.
São estes três principais desenvolvimentos que permitiram o avanço civilizacional.
Estamos hoje a viver a quarta revolução, essa da internet que está a afectar todas as religiões, da mesma maneira que a segunda revolução modificou o Judaísmo com a Bíblia, permitindo a adaptação do conceito de família a esse de povo e de nação na época de Moisés.
Estamos hoje a viver a quarta revolução, essa da internet que está a afectar todas as religiões, da mesma maneira que a segunda revolução modificou o Judaísmo com a Bíblia, permitindo a adaptação do conceito de família a esse de povo e de nação na época de Moisés.
A terceira, o Cristianismo, também sofreu uma grande mudança com a tecnologia da máquina de impressão, na época da Reforma.
A quarta revolução, essa da internet, terá que resolver o conflito entre irmãos, que tem a sua origem na ‘génese’, comum às três religiões monoteístas.
A internet contribui certamente para a globalização, facilitando a troca de informação em todas as áreas.
Aumentou e consolidou a nossa zona de conforto.
Soubemos ‘on line’ que 250.000 cristãos foram massacrados na Síria e no Iraque, decapitados na Líbia, raptados e assassinados na Nigéria, sempre por grupos islâmicos radicais.
O Mar Mediterrâneo, tornou-se um caixão aberto, engolindo dezenas de milhares de refugiados, fugindo as atrocidades e perseguições no Iraque, Síria e Líbia.
Mas foi somente depois do ataque ao jornal Charlie Hebdo em Paris, por esses mesmos grupos radicais, perpetrados por nacionais, que tivemos as primeiras demonstrações de rua, em algumas cidades Europeias.
Porque Toulouse, Paris, Bruxelas e Copenhaga, são cidades mais próximas, representam uma maior ameaça a nossa zona de conforto.
Estive recentemente numa conferência sobre o anti-semitismo e o diálogo inter-religioso em Jerusalém, com a participação de cerca 1200 pessoas de todo o mundo.
No painel em que participei, moderado pelo ex-deputado ao Knesset, o Rabino Melchior e o Padre Patrick Dubois, (conhecido pelo seu incansável trabalho de identificação dos locais na Europa de Leste, onde os Judeus foram mortos a tiro e enterrados nos mesmos sítios onde foram alvejados, geralmente em florestas fora das cidades).
Nessa conferencia estavam presentes como oradores, o Sheik Dr. Usama Hasan, do Reino Unido, Lars Aslan Rasmussen, vereador da camara municipal de Copenhaga, o imã Pallavicini, da Mesquita Al-Wahid de Milão e vice Presidente da comunidade islâmica da Itália e o imã francês de Drancy entre outros. Hassan Chalgoumi, imã de Drancy, Presidente dos Imãs de França e da União dos povos para a Paz disse claramente em algumas das suas últimas entrevistas que quis aproveitar a sua presença em Jerusalém para contactar com os representantes das organizações judaicas a fim de estabelecer um melhor diálogo. Lançou a ideia de trazer mais delegações muçulmanas a Jerusalém para orar, dar a conhecer a realidade no terreno e promover a Paz. Insistiu sobre a necessidade dos muçulmanos levantarem a voz para se fazerem ouvir.
Mencionou o papel negativo da internet na propagação do extremismo islâmico, nomeando os culpados da seguinte maneira; ‘acuso Google, acuso Youtube, acuso Twitter e as redes sociais’.
Foi-lhe perguntado quais eram as frentes onde se encontram esses conflitos no seio do islão?
Respondeu que acima de tudo encontravam-se na internet. Embora a internet seja uma bênção para a humanidade, é também um meio de propagação e incitação à violência utilizada em grande medida pêlos extremistas para radicalizar e recrutar os seus seguidores. De facto, acrescentou, que sem a internet o movimento jihdista não teria atingido o grau de influência que exerce hoje em todo o mundo.
Também mencionou o problema da educação nas escolas francesas, o extremismo e anti-semitismo propagado em algumas mesquitas, e a situação nas prisões onde geralmente os Jhidastas convivem com os outros presos. Uma situação muito perigosa.
O diálogo religioso iniciado por João Paulo II esta a ser desenvolvido e consolidado pelo Papa Francisco. As suas palavras e envolvimento nas grandes questões múndias estão a ter uma grande influência junto dos leaders políticos, representantes das outras religiões e do grande público em geral.
Em Jerusalém, dei como exemplo de diálogo inter-religioso em Portugal a amizade que me liga, ao Dr. Abdool Vakil há mais de 30 anos.
O ano passado, quando surgiu uma tentativa de abolir o abate Halal e Kosher na Polonia, e consequentemente no resto da Europa, resolvemos apresentar juntos uma queixa ao Sr. Embaixador da Polonia. A verdade e que, depois da nossa queixa, essa lei foi modificada pouco tempo depois, e o abate ritual passou a ser autorizado somente para ‘fins religiosos’, situação que já existia antes, mas agora com uma denominação diferente…
Mencionei somente as religiões Abraâmicas, porque são essas, que hoje, estão novamente em conflito. O que não faz sentido, pois as religiões monoteístas têm uma narrativa transversal, uma história em comum, essa da palavra do livro, do livro de cada uma das religiões, porque somos todos gente do livro.
José Oulman Carp
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