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Infelizmente, uma semana depois dos ataques em Paris, tenho de começar pelo terrorismo que pretende ter uma caução religiosa. Porque houve reações ou apropriações aos acontecimentos de Paris que colocam duas ameaças sérias à postura que tem sido a do CRC. Em primeiro lugar, a atitude que foi a da Frente Nacional em França que é uma reafirmação da identidade católica como um fator de exclusão do outro, neste caso o muçulmano. Em segundo lugar uma atitude que podemos denominar de laicista que é a de considerar que as religiões são inevitavelmente um fator de violência e de que para combater a violência há que combater a presença das religiões na sociedade. Em contraponto a estas atitudes, é urgente que o CRC dê continuidade a todo o seu trabalho de diálogo inter-religioso e de diálogo com os não-crentes. Até porque a integração dos refugiados na sociedade portuguesa vai transformar muitas destas questões que agora parecem teóricas ou que são usadas como munições para guerrilhas virtuais no facebook e outras redes sociais em questões muito práticas, que terão a ver com a vida quotidiana de muitas pessoas, com a forma como estrangeiros fugidos de um país em guerra são integrados ou excluídos, com o modo como se fomenta a paz social ou a violência.
Uma segunda questão, que não tem feito as manchetes dos jornais nem aberto os noticiários nos últimos dias, mas é como que o cenário em que se têm desenrolado tantas tragédias é o extremar das desigualdades sociais nos últimos anos. O Papa Francisco escreveu na sua primeira exortação apostólica: «enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência.» É portanto cada vez mais necessário dar continuidade aos debates que o CRC tem realizado acerca dos imperativos evangélicos de justiça social.
Um terceiro desafio para o cristianismo é a questão ecológica. Um dos desafios de uma ecologia cristã é responder aos problemas de sustentabilidade e da qualidade de vida causados pela crença na exploração ilimitada de recursos e pela vontade de maximizar o lucro. Mas se o cristianismo tem de criticar as visões antropocêntricas do seu passado que legitimaram uma conceção do homem como exercendo um domínio ilimitado sobre a natureza, também tem de se demarcar de radicalismos ecológicos que pretendem defender a natureza secundarizando ou prescindindo da dimensão humana. A mais recente encíclica do Papa Francisco dá pistas de reflexão sobre qual pode ser o contributo específico do cristianismo para a consciência ecológica.
Se é importante identificar temas de reflexão que podem interessar pessoas, e causas que podem mobilizá-las, não menos importante é perceber como é que CRC pode chegar aos potenciais interessados nas suas atividades. Os últimos quarenta anos foram marcados por uma grande diversificação da sociedade portuguesa, pela diminuição do catolicismo por pressão social e uma proliferação de grupos mais conscientes. O CRC tem de cooperar com grupos com os quais tem afinidades, encontrar pontos de convergência e meios de agregar energias dispersas. Penso que o CRC deve também valorizar a relação que os seus sócios mantêm com as respetivas paróquias. Fazer-se conhecer nas paróquias e responder a eventuais vontades de organizar iniciativas de paroquianos. Por fim, o CRC deve aumentar a sua projeção na internet, esse espaço de sociabilidade que complementa ou, nalguns casos, substitui sociabilidades tradicionais, mas que também é um espaço a partir do qual se podem gerar novas sociabilidades, participar em projetos e ações com impacto social.
Será portanto percebendo o que permanece vivo e atual do seu património de reflexão e indo ao encontro de novos problemas e das inquietações das pessoas que vivem este tempo que o CRC poderá construir o seu futuro.
João Miguel Almeida
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